quinta-feira, 12 de março de 2009

Considerações Acerca do Uso de Animais em Pesquisa e Educação

A ciência utilizada como ferramenta do pensar humano tem se desenvolvido basicamente por dois propósitos: Tomar conhecimento do universo que cerca o homem e, através deste conhecimento, melhorar as condições de vida. Contudo, se passa por um momento em que a ética tradicional parece não mais abarcar os temas que antes lhe competia, devido ao rápido avanço tecnológico e as novas possibilidades permitidas pela ciência.
Neste âmbito, uma discussão relevante seria a questão do uso de animais em laboratórios e em estudos acadêmicos. Sabemos que para o avanço das pesquisas a experimentação in vivo se torna imprescindível, como corrobora Raw “Nenhuma das pesquisas que deram origem às vacinas seria possível sem o uso de animais de laboratório”. “Diversas espécies de animais são empregadas para a pesquisa biológica e médica experimental em laboratório, visando diferentes objetivos, particularmente nas áreas da fisiologia e farmacologia" (Junqueira & Ubatuba, 1937). A discussão toma forma quando pensamos até que ponto os animais podem servir para o avanço do conhecimento.
Para tanto, algumas definições devem ser feitas, para que se desenvolva um conceito coerente, tal como ética e vida.
Siqueira afirma que o livro O Princípio da Responsabilidade, de Hans Jonas, é uma avaliação extremamente crítica da ciência moderna e de seu braço armado, a tecnologia. Mostra, o filósofo, a necessidade do ser humano de agir com parcimônia e humildade diante do extremo poder transformador da tecnociência. Dessa forma, o termo ética aqui abordado será baseado no conceito de Jonas em que diz que a nova ética deve estar rodeando a ação não somente do homem, mas também os reflexos que elas geram para os animais, vegetais e as vidas futuras, já que a ecologia, um ramo científico, comprova que a terra e a vida nela presente funcionam como um só organismo. Jonas pede, em seu texto, que incluamos em nossas escolhas presentes a futura integridade do homem com um dos objetos de nosso querer.
Em 1966 Jonas publicou O Princípio da Responsabilidade e quase meio século depois, o avanço científico desordenado ainda não conseguiu ser refreado e repensado de modo que se possa baseá-lo eticamente. O avanço científico deveria ter suas bases na ética. Segundo Felipe (2000) “apenas 1 bilhão dos nossos 6 bilhões de viventes, têm acesso à comida industrializada, aos produtos cosméticos e às drogas patenteadas às custas dos 500 milhões de seres vivos sacrificados em laboratórios anualmente [e] apenas uma minoria da população mundial tem acesso ao uso das drogas inventadas em laboratórios, e [...] essa minoria, ainda assim, não tem, em sua totalidade sua doença curada, pois cada indivíduo responde de uma maneira própria à química artificial injetada”. Ainda de acordo com a doutora “é preciso começar a fazer ciência com outros meios, observação em vez de experimentação, por exemplo, e com outros fins - prevenção em vez de cura”.
Definir o conceito de vida tem sido árduo para os cientistas. E no campo da ética parece estar tudo paralisado, pois se não se definiu a vida; como modelar eticamente as atividades acadêmicas usando animais? Portanto, o conceito de vida aqui usado foi baseado nos estudos do Dr. Décio Iandoli Jr. em uma de suas publicações.
A Dra. Lynn Margulis (2001) afirma que tentar definir vida é cair em uma armadilha linguística, pois para respondê-la, pelas regras gramaticais, deveríamos fornecer um substantivo, uma coisa, mas a vida na terra assemelha-se mais a um verbo. O Dr. Iandoli propõe que se considere uma nova hipótese de trabalho, uma vez que o paradigma reducionista atual tenha falhado em explicar a vida. “Vamos admitir que a vida seja um ‘fator’ extrafísico, ainda não mensurável, um fator que determina condições de organização da matéria, e que, sendo assim, poderíamos chamar de ‘princípio inteligente’, posto que organiza, derivados de um ‘princípio inteligente universal’” (IANDOLI JR., 2005).
As conclusões e princípios científicos que levaram o Dr. Iandoli chegar a um conceito de vida extrafísico, chamado de ‘princípio inteligente’, não cabem no presente estudo. Contudo, este conceito será adotado para o questionamento acerca do uso de animais em laboratórios e estudos acadêmicos.
Tendo definido ética e vida a problemática sobre usar animais em pesquisa e estudo parece se esclarecer.
Portanto, se é o mesmo princíprio que rege a vida microscópica, vegetal, animal, o que poderia criar diferença entre os direitos igualitários a que os seres vivos têm? Esta parece ser a ética em que todos se beneficiam como propôs o filósofo Hans Jonas.
Ao se considerar os direitos humanos tais quais os direitos dos outros seres vivos toda a problemática se dissolve. O que poderia, neste ínterim, fazer o homem pensar que pode explorar a vida alheia? Se o princípio que lhe compete é o mesmo que compete ao animal, como pode aquele se situar numa posição superior a este? Do ponto de vista Darwinista, não seria natural que a doença e outros fatores selecionassem homens capazes de sobreviver e estas se procriassem criando uma ordem evolutiva natural? Do ponto de vista da ecologia, não seria a superpopulação uma consequência dos avanços tecnológicos que aumentam cada vez mais as produções das lavouras, que desenvolvem equipamentos sofisticados capazes de salvar pessoas da quase-morte?
Em entrevista a revista Época (2008) o pesquisador Michel Conn explica que grupos extremistas defendem a opinião de que os animais não deveriam ser usados em pesquisas científicas, nem como fonte de comida ou de couro para roupas. Acham que os animais não podem ser nem bichos de estimação. Referindo-se as ameaças que tem recebido de extremistas, Conn relata “é só uma questão de tempo até alguém ser morto”. Ora, como esperam estes grupos alcançar a não-violência? Uma atitude coerente seria deixar as ameaças aos pesquisadores e partir para outro tipo de manifestação, afinal, o homem não é menos importante que o animal segundo o conceito de que o ‘princípio inteligente’ é o mesmo para ambos.
Dessa maneira, do ponto de vista supracitado, continuar os estudos usando animais parece disparatado. Eles seriam essencialmente iguais aos homens, contudo, em corpo material diferente. Até onde se deseja avançar com a ciência e até onde ela poderá chegar? Não temos cosméticos suficientes, fármacos suficientes, conhecimento suficiente para levarmos uma vida sem ansiosidade? Se a resposta for não, alegamos viver em eterna ansiosidade - e deveremos aceitar esta condição - uma vez que o universo a ser conhecido e desfrutado parece ilimitado. Mas, se a resposta for sim, as atitudes devem ser remoldadas e baseadas no novo paradigma que define vida e ética.


REFERÊNCIAS

BUSCATO, Marcela. Seu filho vale menos que um rato? 531 ed. Revista Época, 2008.

FELIPE, Sônia T.; TERENZI, Mariana G. Animais na pesquisa? Jornal Universitário UFSC, 2000.

IANDOLI JR., Décio. A reencarnação com lei biológica. 2ª ed. São Paulo: FE, 2005.

JUNQUEIRA JR., Luiz F.; UBATUBA, Fernando B. Espécies de animais empregadas em experimentação laboratorial. Disponível em: <
http://eureka.pucpr.br/repositorio/download.php?codLink=2421459 >. Acesso em: 01 de março de 2009.

RAW, Isaias. Ou você ou a cobaia. Revista Super Interessante.

SIQUEIRA, José E. de. Hans Jonas e a ética da responsabilidade. Disponível em: <
http://www.filoinfo.bem-vindo.net/modules.php?name=News&file=article&sid=205 >. Acesso em: 01 de março de 2009.
Por Gabriel Vargas.











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